Findo o Open Internacional de Xadrez Marquês de Pombal que aconteceu no fim-de-semana passado, no celeiro do Marquês, é altura de fazer um balanço. Pombal recebeu jogadores de diversas cidades do país. Também estiveram presentes os mestres nacionais António Fróis e Rui Dâmaso que não descoraram a vertente educacional do jogo.

Com 52 anos, o campeão europeu em mais de 50 partidas rápidas, António Fróis, considera-se um profissional da modalidade. Acredita que é preciso saber “lidar com a derrota” e “acreditarmos no que estamos a fazer” para chegar longe na modalidade.
Joga desde os 14 anos e é profissional de xadrez desde os 22. Apesar de ter “sido feito pela música”, de acordo com a qual os pais músicos o educaram, decidiu enveredar por um outro caminho. Reconhece que apesar de o desporto-rei em Portugal ser o futebol, coloca de parte o preconceito e faz aquilo de que realmente gosta: jogar xadrez.
O trabalho e a resistência ao stress da derrota são dois dos conselhos que tem para dar aos iniciantes. Por um lado existe a questão comportamental. “Para jogar xadrez é preciso ter as peças arrumadas antes do jogo, tem de se cumprimentar o adversário e não se pode intervir nas jogadas dos outros”. Por outro lado, “a questão de lidar com adversidade”, revela-se preponderante.
O xadrez tem duas formas de jogar: sem o relógio e com o relógio. Nas crianças tem um efeito importante: “aprendem a gerir o tempo, pelo que têm de fazer a melhor decisão num determinado espaço de tempo; não muito depressa para não falhar a jogada nem muito devagar para não se esgotar o tempo”. A criança tem de saber gerir o tempo com as peças para não se atrapalhar. “Eles têm de gerir as peças, o tempo e a folha onde apontam as jogadas”. Todos estes fatores acabam por se conjugar numa educação eficaz, “ao nível cognitivo e pedagógico”.
India, China, Turquia e Brasil são alguns dos países onde já estão implementados programas educacionais para o ensino do xadrez. “Tenho pena que o Governo português esteja um pouco distraído relativamente a este aspeto”, lamenta o mestre António Fróis.
Apesar da duração de cinco horas de um jogo profissional, este pode durar menos tempo quando se trata dos jogos dos mais novos. “Os jogos podem acabar num instante”, explica. “É importante manter-se os dois torneios: o destinado aos mais novos e o designado de lentas, para os jogadores mais experientes”.
Uma outra característica deste jogo é que, apesar de não ter limites de idades envolver o raciocínio, ao contrário de outros desportos, pode ser jogado entre netos e avôs. Rui Dâmaso explica que este é um jogo que se distingue dos demais por proporcionar um convívio alargado entre todos. “A particularidade de ser um desporto intelectual facilita a aprendizagem dos mais novos com os mais velhos.”
Jogador de xadrez desde os 14 anos, Rui Dâmaso foi considerado mestre internacional aos 22. Acredita que esta é uma “modalidade muito vasta” que implica a parte do ensino da modalidade e o plano do mestre e da competição. Inicialmente “implica gosto e prazer por parte do jogador”.
Fala acerca de planos do desenvolvimento da modalidade: “há planos em pequenos focos do país. Todos os anos movimenta muitos miúdos da escola. É uma ferramenta importante, que ajuda principalmente, na matemática”. Sublinha, ainda, que é necessário fomentar a auto-realização pessoal e as melhores tomadas de decisão: “adquirimos mecanismos de pensamento que nos possibilitam raciocinar de uma melhor forma”.
Conhecidos os diversos benefícios do xadrez realizou-se pela primeira vez um Torneio Jovem na Biblioteca Municipal de Pombal e, pela terceira vez, um Torneio Internacional da modalidade. A estudante Ana Baptista de 24 anos foi a vencedora na categoria de femininos. Joga já há 18 anos, inicialmente motivada pelos professore e depois pela família.
Acredita que “a boa capacidade de concentração, o espírito competitivo, a capacidade de esforço e ser forte psicologicamente” são as principais características que, segundo a vencedora, devem ser tidas em conta. No fim fica uma palavra de alento: “esforcem-se, só assim poderão chegar longe”.
Vasco Diogo (Clube TAP) com 4,5 pontos em 5, Jorge Cruz (Montemor-O-Velho) com 4,5 pontos e André Sousa (GX Porto) com 4 pontos, foram os três primeiros classificados do Open Internacional de Xadrez Marquês de Pombal. Já no Torneio de Xadrez Jovem Marquês de Pombal/AJEC o destaque foi para Orlando Ribeiro, João Fernandes, João Basílio, Miguel Simões e Rodrigo Basílio.
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Texto: Ana Isabel Mendes